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PARÂMETROS FÍSICOS E TEMPORAIS DO SOM DE CORTE DE Adellosgrylus rubricephalus (ORTHOPTERA, PHALANGOPSIDAE) - LUCAS AZEVEDO VASCONCELLOS - XXIII Congresso de Iniciação Científica da UFPel- 2014

PARÂMETROS FÍSICOS E TEMPORAIS DO SOM DE CORTE DE Adellosgrylus rubricephalus (ORTHOPTERA, PHALANGOPSIDAE)

LUCAS AZEVEDO VASCONCELLOS¹; LUCIANO DE PINHO MARTINS²; JEFERSON VIZENTIN-BUGONI³; EDISON ZEFA4

¹Graduando em Ciências Biológicas/UFPel - lucasssvasconcellos@gmail.com 

2Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia lucianodpm@gmail.com

3PPG em Ecologia ,UNICAMP - Jeferson Bugoni - jbugoni@yahoo.com.br

4Universidade Federal de Pelotas – edzefa@gmail.com

1. INTRODUÇÃO

            Os grilos produzem os sinais acústicos por meio de um aparelho estridulador presente nas tégminas dos machos, e o órgão auditivo é um tímpano localizado nas tíbias anteriores de ambos os sexos (PIERCE, 1948).

            O repertório acústico dos grilos inclui diferentes tipos de som, como de chamado, corte e agressividade (ALEXANDER, 1957, 1962ab, 1966), sendo um dos sistemas acústicos mais complexos dentre os invertebrados (ALEXANDER, 1967; OTTE, 1992). O som de chamado foi mais estudado e é melhor compreendido devido sua utilização na taxonomia. Pouco se sabe sobre os padrões físicos e temporais dos outros sinais do repertório dos grilos.

            Adelosgryllus rubricephalus Mesa & Zefa, 2004 apresenta repertório acústico incluindo som de corte e agressividade e, até o presente momento não foram registrados sons de chamado. O macho corteja a fêmea por cerca de 24 min e expõe o espermatóforo 15 min antes da cópula (ZEFA et al., 2008), estridulando intermitentemente durante toda a corte.

            O objetivo deste trabalho foi caracterizar os parâmetros físicos e temporais do som de corte de A. rubricephalus, e avaliar se existem diferenças no som produzido antes e depois da eversão do espermatóforo, uma vez que esses elementos podem estar envolvidos no processo de seleção sexual.

2. METODOLOGIA

       Os indivíduos foram coletados sob tijolos abandonados de uma casa desconstruída, na borda de um fragmento vegetal que compõe o Horto Florestal Irmão Deodoro Luiz, município de Capão do Leão, RS, Brasil (31º48’55.13” S, 52º25’59.67” W).

       Os exemplares foram acondicionados em terrário com substrato trazido do local da coleta e alimentados com ração para peixes alconCOLOURSÒ até que atingissem a fase adulta. A partir desses exemplares estabeleceu-se uma criação definitiva, mantida até a conclusão deste estudo.

       Os encontros foram promovidos com machos e fêmeas adultos mantidos individualmente isolados por um período de cinco dias, em potes de vidro com 8 cm de diâmetro por 15 cm de altura, e com fundo de areia. Esses recipientes foram utilizados como arena.

       Foram realizados 20 encontros, em cinco deles os sons de corte foram registrados com qualidade suficientemente boa (sem ruídos e reverberação) para análise. Os registros sonoros foram obtidos com gravador Nagra E e microfone Sennheiser ME 88, disposto a cerca de 10 cm dos grilos. Os sons foram digitalizados e analisados com o software Avisoft-SASlab Lite.

       Para os cinco grilos machos colocados na presença de fêmeas nas arenas e que tiveram o som gravado antes e depois da eversão do espermatóforo foram quantificados o número de pulsos por frase, o tempo de duração da frase e o período de pulso, que foram utilizados como parâmetros acústicos.

       A comparação de cada uma destas variáveis entre antes e depois da eversão do espermatóforo foi realizada através de teste T, após a confirmação de existência de distribuição normal e homocedasticidade dos dados através dos testes de Shapiro-Wilk e Levene, respectivamente. Todos os testes foram realizados no programa Past.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

            O som de corte de A. rubricephalus tem início logo após o reconhecimento sexual entre macho e fêmea e ocorre durante toda a corte, sendo caracterizado pela emissão intermitente de frases com tempo médio de duração de 0,24s±032 (0,1-0,3), incluindo 12,2±1,78 (9-16) pulsos por frase, com período de pulso de 0,023s±0,002 (0,02-0,032) e frequencia de 6280Hz.

            Não houve diferença no som produzido antes e depois da eversão dos espermatóforos no que se refere ao número de pulsos por frase (t=1,69; g.l=4; p=0,12), ao tempo de duração das frases (t=1,71; g.l=4; p=0,12) e ao período de pulso (t=0,10; g.l=4; p=0,91) (Tab. 1).

            Acredita-se que os primeiros sinais acústicos produzidos pelos grilos estavam envolvidos no processo de corte, para manter a fêmea próxima e também mostrar atributos genéticos dos machos (ALEXANDER, 1962, 1966). A utilização do som para chamadas a longa distância provavelmente surgiu posteriormente, como modificação e especialização do som de corte (ALEXANDER, 1962a, 1966; OTTE, 1992).

            Pouco se sabe sobre a função dos padrões físicos e temporais do som de corte no processo reprodutivo dos grilos. Em Teleogryllus oceanicus, machos que tiveram as asas cortadas acasalaram normalmente, porém com menor sucesso em conseguir parceiras para cópula, o sucesso reprodutivo dos machos amputados foi aumentado com o playback do som de corte, o que mostra a importância desse sinal acústico na seleção de parceiros (BALAKRISHNAN; POLLACK, 1996).

            O som de chamado, além de atrair fêmeas para o acasalamento, indica atributos genéticos dos machos, sendo importante no processo de seleção sexual (GRAY; CADE, 2000; GRAY; ECKHARDT, 2001). Provavelmente o som de corte pode estar envolvido nesse contexto, em A. rubricephalus a exibição do espermatóforo durante a corte parece atuar como indicador da qualidade genética do macho (ZEFA, 2008), porém, sua exibição durante a corte não implica em alteração nas características sonoras, mostrando que os dois canais de comunicação são independentes.

 

Tabela 1: Média dos parâmetros analisados antes e depois da eversão do espermatóforo, n = 5. a = antes; b = depois. P/f = pulsos por frase; Df = duração da frase; Pp = período de pulso.

 

Espécimes

P/f

Df

Pp

 

a

b

a

b

a

b

02adel

12

11,5

0,24

0,22

0,022

0,019

04adel

16,75

14

0,37

0,3

0,023

0,024

10adel

13,5

10

0,25

0,2

0,022

0,024

11adel

11,75

10

0,28

0,22

0,028

0,027

16adel

12

11

0,26

0,2

0,026

0,026

Média

13,2

11,3

0,28

0,22

0,024

0,024

                 
 

4. CONCLUSÕES

            Embora o som de corte de A. rubricephalus seja emitido de forma intermitente, houve regularidade no número de pulsos por frase, tempo de duração da frase, e período de pulso, inclusive com semelhança nesses parâmetros quando comparados durante a emissão antes e após a eversão do espermatóforo.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEXANDER, R. D. The taxonomy of field crickets of the eastern United States (Orthoptera: Gryllidae: Acheta). Ann. Entomol. Soc. Amer., v.50, n.6, p.584- 602, 1957.

ALEXANDER, R. D. Aggressiveness, territoriality, and sexual behaviour in field crickets (Orthoptera: Gryllidae). Behaviour, 17: 2-3, p.130–223, 1961.

ALEXANDER, R. D. Evolutionary change in cricket acoustical communication. Evolution, v.16, n.4, p.443-467, 1962a.

ALEXANDER, R. D. The Role of Behavioral Study in Cricket Classification. Sist. Zool., v.11, n.2, p.53-72, 1962b.

ALEXANDER, R. D. The evolution of cricket chirps. Nat. Hist., v.75, p.26-31, 1966.

ALEXANDER, R. D. Acoustical communication in Arthropods. Ann. Rev. Entomol., v.12, p.495–526, 1967.

BALAKRISHNAN. R.; POLLACK, G.S. Recognition of courtship song in the field cricket, Teleogryllus oceanicus. Anim. Behav., 51, 353–366, 1996.

GRAY, D.A.; Cade, W.H. Sexual selection and speciation in field crickets. PNAS, 97 (26), 14449–14454, 2000.

GRAY, D.A.; ECKHARDT, G. Is cricket courtship song condition dependent? Animal Behaviour, 871–877, 2001.

OTTE, D. Evolution of Criket Songs. J. Orthop. Res., n.1, p.25-49, 1992.

PIERCE, G.W. The songs of insects: with related material on the production, propagation, detection, and measurement of sonic and supersonic vibrations. Cambridge, Massachusetts, USA: Harvard University Press, 1948.

ZEFA, E.; Martins, L.P.; Szinwelski, N. Complex mating behavior in Adelosgryllus rubricephalus (Orthoptera, Phalangopsidae, Grylloidea). Iheringia, Sér. Zool., Porto Alegre, 98(3):325-328, 2008.